No Bloguítica
Posts 917 e 918: «O fim da idade da inocência» e «O mediador internacional»«100% de acordo consigo. Incluindo no que concerne à RPC [China] cuja estratégia vem das lições de Estaline: "Espetas a faca, se encontrares osso, tira depressa. Espera que se ponha a jeito e espeta ao lado. Repete o gesto até a faca entrar toda".A reunião do CCF [Comité Central da FRETILIN] era a janela de oportunidade para a FRETILIN apresentar uma alternativa aceitável pelo PR [Presidente da República], que lhe permitisse salvar a face e ao mesmo tempo permitir a negociação de condições quanto à Lei eleitoral, data das eleições, investigação dos crimes, posicionamento das forças estrangeiras, mediação internacional, etc...Ao mesmo tempo, e como quem não deve não teme, Alkatiri ficaria livre para, sem o ónus da posição de PM [Primeiro-Ministro], poder dizer o que entre dentes tem querido dizer. A menos que deva e como tal, tema.Mas infelizmente, "the game is not over until it’s over".
O mediador que lá caiu de pára-quedas, ou talvez não, infelizmente não tem o peso que se impõe neste momento e vai ser boicotado pelos Australianos. Estes, não vão permitir que Xanana o oiça sequer. Nem Xanana nem Ramos Horta. Hão-de recebê-lo cortesmente e mais nada.Quanto à divisão dentro da FRETILIN, ela não vai ser tanto por questões ideológicas como a princípio pareceria (essas, creio, eram insignificantes), mas de posicionamento pessoal para apanhar as migalhas que sobrarem na futura repartição do poder.
E isto tudo é triste, muito triste. Porque mais ninguém em Timor-Leste tem o estofo, a vontade, o interesse e a argúcia de Mari Alkatari para levantar um Estado a partir do nada, criar Instituições, planear o futuro a médio e longo prazo e manter a independência em relação aos interesses circundantes. Infelizmente, não resistiu à tentação de tentar perpetuar o partido no poder. Alkatiri era necessário a Timor-Leste mais uma legislatura. Mas queria permanecer mais dez ou vinte legislaturas. E essa ambição da visão messiânica da FRETILIN como única e legítima herdeira da resistência deitou tudo a perder e fez Timor recuar pelo menos 5 anos no processo de desenvolvimento.Presumo que o próximo passo, o único que resta, é a dissolução do Parlamento. Não sei quem irá chefiar o futuro governo de salvação nacional. Mas seja quem for vai rapidamente perceber, se é que não está já assim combinado, que lhe vão ser cobrados com juros à cabeça, o favor de afastarem a FRETILIN do poder. No worries mate.Resta-nos esperar que o desespero de quem sair a perder, não transforme Timor-Leste numa Somália do Sudeste Asiático, porque aí a independência ficará perdida por muitos e longos anos. E só será restaurada quando ficarem exauridos os recursos e garantida a lealdade e obediência à ordem regional dominante.»
João Tavares
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