30.8.06

Lusofonia

EUA concluem que Portugal não esteve envolvido na morte de Amílcar Cabral
(fonte: Expresso)

Menos de um mês após o assassínio do dirigente histórico do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Amílcar Cabral, os Estados Unidos concluíram que Portugal não esteve directamente envolvido na sua morte. A conclusão foi revelada através de documentos oficiais tornados públicos esta semana em Washington.
De acordo com a agência Lusa, os documentos incluem telegramas, minutas de reuniões ao mais alto nível do governo norte-americano e ainda propostas sobre a política a seguir por Washington face à deterioração da situação militar na Guiné-Bissau e Moçambique.
Amílcar Cabral foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973 em Conackry e a 01 de Fevereiro aqueles serviços do Departamento de Estado emitiram um relatório onde referiam: «a maior parte dos sinais indicam (que o assassínio de Cabral) foi resultado de um feudo entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente», acrescentando contudo «haver sinais de envolvimento português».
Os documentos revelam ainda que a diplomacia norte-americana se encontrava a par de planos do PAIGC de declarar a independência da Guiné-Bissau nas zonas libertadas do território (o que veio a acontecer em Setembro de 1973) e ainda que, face à deterioração da situação militar, Portugal esteve envolvido em contactos com representantes do movimento de libertação nesse ano. Um estudo dos Serviços de Informações e Investigação do Departamento de Estado datado de 5 de Outubro de 1973 diz que o PAIGC controlava na altura «aproximadamente um terço do território» e avisa que o PAIGC irá pedir a adesão do pais à ONU «ainda este ano ou no próximo».
Em Dezembro de 1973, o então secretário de Estado, Henry Kissinger, presidiu a uma reunião em que a situação na Guiné foi discutida e em que Kissinger e outros destacados funcionários manifestaram a sua irritação face à inflexibilidade de Portugal na questão colonial. No encontro o então sub-secretário de Estado para questões políticas, William Porter queixa-se amargamente que «o problema é que eles (os portugueses) não nos dão nada com que possamos trabalhar. Não nos dão nada para que os possamos defender. Não nos dão uma única coisa. Falam muito», disse Porter. Kissinger afirma a certa altura que «não há solução excepto tirar-lhes (os territórios)».
Cinco meses depois o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 evitou que Washington tivesse que tomar uma «decisão política» quanto às colónias portuguesas.
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